Especialista em urologia feminina fala sobre possíveis causas e tratamentos para evitar constragimentos e superar impactos físicos e psicológicos
Um problema incômodo e que pode se tornar persistente, gerando sintomas que, em caso de agravamento, podem colocar em risco o bem-estar e a saúde das mulheres, com consequências que vão desde constrangimentos sociais até impactos psicológicos profundos.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Urologia, cerca de 80% das mulheres vão apresentar infecção urinária ao longo da vida, e, no comparativo, elas têm 50 vezes mais chances de desenvolver a doença do que os homens. Já a incontinência urinária, caracterizada como perda involuntária da urina pela uretra, atinge 45% das mulheres brasileiras e 15% dos homens acima de 40 anos de idade, segundo dados de 2024.
O urologista Ricardo Pádua, preceptor da Santa Casa BH e do Hospital São Lucas, explica que o alto índice de infecção urinária nas mulheres está ligado à anatomia feminina, em razão de uma uretra curta. Outras causas comuns são as “alterações hormonais pós-menopausa, a bexiga hipoativa – mais conhecida como bexiga fraca –, além de estreitamentos da uretra feminina e outros que impossibilitam a bexiga de esvaziar completamente”, enumera o especialista.
Ele indica algumas medidas práticas para evitar infecções, como “não segurar a urina por períodos prolongados, ingerir de dois a três litros de líquidos diariamente, urinar antes e após as relações sexuais, realizar uma higiene adequada no local, porém sem usar as duchas vaginais, manter o intestino com bom funciomento, idealmente uma vez ao dia, e realizar reposição hormonal se for o indicado pelo seu médico”.
Problemas combinados
Popularmente chamada de “bexiga caída”, o prolapso da bexiga é, nas palavras de Pádua, “uma fraqueza da musculatura vaginal”. “Uma parte da bexiga passa por entre essa musculatura e aparece na região vaginal”, detalha. As opções para solucionar o problema podem ser paliativas, especialmente para “as pacientes que não podem realizar a cirurgia”.
Nesse caso, indica-se “a fisioterapia pélvica e o uso de pessários (dispositivos médicos inseridos na vagina para dar suporte aos órgãos pélvicos), mas o tratamento mais efetivo é o cirúrgico, podendo ser as cirurgias minimamente invasivas ou convencionais”, defende o especialista. “A escolha do tratamento vai depender de fatores como gravidade do prolapso, idade, sintomas, desejo reprodutivo e impacto na qualidade de vida da paciente”, complementa.
Já a incontinência urinária de esforço, causada pelo enfraquecimento do assoalho pélvico, é “a perda de urina devido à fraqueza do esfíncter, músculo que segura a urina”. Pádua explica que “é muito comum a incontinência urinária e a bexiga caída ocorrerem ao mesmo tempo”.
“Se isso acontecer, o ideal é realizar o tratamento combinado, já que a resolução de apenas uma condição pode, em alguns casos, até piorar a outra”, informa. Existem outros tipos de incontinência urinária menos comuns, como a de urgência, em que a necessidade de urinar é repentina e intensa, e a mista, que combina sintomas da incontinência de esforço com a incontinência de urgência.
Condições agravantes
Há mulheres que sofrem com escapes de urina ao tossir ou realizar exercícios físicos. Em casos mais leves, Pádua sugere a fisioterapia pélvica com eletroestimulação e biofeedback, terapia que ajuda a controlar funções corporais involuntárias. No entanto, em situações mais graves, cirurgias como o sling, procedimento que consiste na colocação de uma fita abaixo da uretra para tratar a incontinência urinária de esforço, laser vaginal e radiofrequência podem ser a solução.
O urologista alerta para condições que devem ser observadas, como a menopausa, em que os níveis de estrogênio são reduzidos, levando ao “afinamento da mucosa vaginal e uretral, com menor lubrificação e alteração da flora”. “Isso aumenta o risco de infecções urinárias, prolapso da bexiga, devido ao enfraquecimento do assoalho pélvico, e incontinência urinária. Tratamentos como reposição hormonal local, laser vaginal e fisioterapia pélvica ajudam a minimizar esses impactos”, reforça.
Exercícios para o assoalho pélvico como o de Kegel, método criado na década de 1940 por Arnold Kegel, que consiste na contração e descontração dos músculos encontrados na cavidade pélvica, podem ser uma boa solução. “Eles são eficazes para fortalecer a musculatura e prevenir a incontinência de esforço, mas não são indicados para todos os casos, como em prolapsos avançados ou contrações musculares inadequadas”, arremata Pádua.
Novas tecnologias melhoram os tratamentos
O avanço tecnológico tem propiciado maneiras mais eficazes e menos invasivas de tratamento para as mulheres que sofrem com problemas urinários. O urologista Ricardo Pádua cita o “laser vaginal para atrofia e incontinência, a radiofrequência para fortalecimento pélvico, a aplicação de toxina botulínica para bexiga hiperativa e técnicas cirúrgicas minimamente invasivas para prolapso”. Um eletroestimulador muscular também vem ganhando força no meio.
O mecanismo emprega estimulação elétrica para induzir contrações controladas e precisas nos músculos enfraquecidos do assoalho pélvico. “Com seu uso contínuo, ele ajuda a fortalecer esses músculos, melhorando o suporte à bexiga e reduzindo a incidência de incontinência urinária”, conclui Pádua.
Fonte: otempo.com.br