A pipa (também chamada de papagaio, arraia, cafifa, pandorga, entre outros nomes) pode oferecer uma série de riscos à aviação. Esse simples brinquedo, que costuma ser feito em casa mesmo, pode causar sérios danos a aeronaves, incluindo problemas estruturais e provocar até uma queda.
No final de abril, por exemplo, uma pipa causou transtornos no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, tendo de fazer o maior avião de passageiros do mundo, o Airbus A380, arremeter. Instantes antes, um outro avião avistou uma pipa após o pouso.
O objeto estava sobre a pista de taxiamento, e poderia ser sugado pelo motor, causando danos à aeronave. Como o primeiro avião precisou ficar parado no local, o A380 teve de arremeter por segurança.
Que problemas pode causar?
Soltar pipa nas proximidades de aeroportos oferece um perigo tão sério que alguns aeroportos avisam sobre esse risco nas documentações que precisam ser lidas pelos pilotos que vão trabalhar nesses locais, chamados de Notam (Notice to Airmen —Aviso aos Aeronavegantes, em português).
Um exemplo é o Campo de Marte, localizado na cidade de São Paulo. No Notam do aeroporto, é advertido aos pilotos que irão voar ali que há ocorrência de pipas com maior frequência nas cabeceiras das pistas e nas proximidades das rotas dos aviões aos sábados, domingos e feriados.
Veja alguns danos que as pipas podem causar:
- Cortes na asa ou alguma superfície que controle o voo
- Danificar a estrutura do tanque, podendo causar vazamento de combustível
- Tampar a entrada de ar do motor, se for sugada
Avião precisa passar por revisão
Sempre que é detectada a colisão com a pipa e o fio, o avião precisa passar por uma inspeção minuciosa antes de voltar a voar. Isso pode gerar atrasos e mais custos para os operadores.
Em aviões maiores, o principal problema pode ocorrer se ela for sugada pelo motor, obrigando as equipes de manutenção a fazerem uma inspeção detalhada na aeronave.
Como esses aviões geralmente voam em altitudes maiores, dificilmente colidem com a pipa no ar, sendo o maior problema quando estão próximos aos aeroportos ou no pouso e decolagem, quando podem sugar o brinquedo ou colidir com suas linhas.
Risco maior com aviões menores
Aviões menores, como aqueles que costumam ser operados por particulares ou táxi aéreo, por exemplo, estão mais sujeitos aos riscos envolvendo as pipas. Segundo Cainnan Agostinho, gerente de segurança operacional do Aeroclube de São Paulo, sediado no Campo de Marte, são registradas de duas a cinco ocorrências por mês entre os aviões da instituição.
“O risco envolvendo pipas e aviões de pequeno porte é significativo. Elas podem danificar as estruturas do avião, principalmente se a linha contiver cerol [vidro moído e colado à linha para disputar com outras pipas]. Em casos mais graves, a pipa pode entrar em alguma das tomadas de ar do motor ou enroscar na hélice, danificando algum componente fundamental do avião no pior cenário possível”, diz Agostinho.
Para reduzir essas ocorrências, a Infraero, empresa pública que administra o Campo de Marte, vem realizando nos últimos anos campanhas de conscientização sobre o risco de soltar pipas nas rotas dos aviões.
No Aeroclube de São Paulo, diz Agostinho, optou-se por reduzir a frequência de alguns tipos de treinamento realizados no local nas tardes dos feriados e fins de semana, quando há a maior frequência de ocorrências do tipo.
Problemas em grandes aeroportos
As pipas também representam problemas em grandes terminais, como é o caso do aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. Veja a seguir as estatísticas de ocorrências envolvendo o brinquedo nos últimos anos:
- 2020: 56 pipas recolhidas
- 2021: 70 ocorrências envolvendo 490 pipas recolhidas
- 2022: 48 ocorrências envolvendo 200 pipas recolhidas (até abril)
Segundo Admilson Silva, diretor de operações da GRU Airport, concessionária que administra o local, não só as pipas em si, mas as linhas também representam perigo.
“Apesar de parecerem inofensivas, as pipas podem causar grandes transtornos para a aviação, principalmente se forem usadas linhas com cerol ou o que é conhecido como linha chilena [um material mais resistente que as linhas comuns]”, diz Silva.
“Esse material pode se enroscar em componentes fixos ou móveis do avião e causar avaria, com riscos de acidentes. As linhas cortantes também podem atingir trabalhadores”, afirma o diretor.
Quando uma pipa cai dentro do aeroporto, ela ainda pode causar a parada das operações, seja total ou parcial, até que seja recolhida, gerando atrasos e mais custos para as empresas. Para evitar isso, as equipes dos aeroportos são treinadas para observar e prevenir o risco, removendo o material o mais rápido possível do local.
Fonte: economia.uol.com.br/