De Dante Augusto Galeffi, a convite do Aratu Online
Lutar contra o obscurantismo involuntário que se impõe como véu para cobrir a revolução humana em curso é imperioso. A PEC 241 responde aos interesses dos grupos organizados dominantes que insistem em considerar o Brasil como um país que precisa ser mantido colonizado, devido ao seu perigo potencial de um novo paradigma civilizatório, agora poliecologicamente e polieticamente concebido (ecologia/ética ambiental, social, mental e cibernética).
É também possível ver aí a dialética da história política feita de avanços e retrocessos. Vivemos hoje o “retrocesso”, a “depressão” do movimento político nacional, em virtude de uma série de acontecimentos de grande complexidade para se poder reduzir tudo a apenas fórmulas matemáticas ilusoriamente exatas e objetivas. A aparente “ordem e progresso” como palavra de ordem do governo golpista esconde a “depressão”, o “retrocesso”, o caminhar para trás e não mais para frente.
Melhor o caos que dá origem a tudo o que cria do que essa “ordem e progresso” como lema enganoso dos que querem a todo custo tapar o sol com a peneira. Eles querem impor que os “idiotas sociais”, supostamente existentes pela inércia política das multidões sociais, acreditem que não há sol e sim o desejo soberano do déspota que se mascara de ordeiro e progressista para esconder seu projeto de submissão do país aos poderes neo-escravagistas pós-modernos liberais, traindo todo cidadão e cidadã ávido(a) de ordem e progresso que efetivamente ordene e realize a progressão para a sociedade igualitária, fraterna, livre e criadora.
Será este um ideal que não faz mais sentido pronunciar e defender? Qual Igualdade, qual Fraternidade, qual Liberdade e qual Criação está motivando o salto revolutivo necessário para se sair da barbárie imposta pela bestialidade civilizatória contra a multiplicidade e a diferença criadora? Como lutar contra o Leviatã que se impõe como governo central autoritário, supostamente combatendo a “guerra de todos contra todos” (Bellum omnium contra omnes) que seria a condição do “estado de natureza” (de acordo com Thomas Hobbes), estado que concentra todo o poder em torno de si, “ordenando” todas as decisões da sociedade de modo a satisfazer a sua fome insaciável? Que meios são necessários para vencer o Leviatã que se apresenta como o “salvador da pátria”?
As multidões podem ainda surpreender com sua potência aparentemente adormecida e controlada. Mas é preciso pensar a política além das polarizações e partições que só faz alimentar ainda mais o monstro dos estados totalitários e seus regimes de exceção. É preciso que se invente um novo plano de imanência para a política nacional e os políticos aí atuantes são os mais despreparados e incompetentes para a realização dessa revolução humana.
Precisamos de cidadãos fortalecidos que se constituam em uma espécie de linha de fuga política que possam nos apresentar caminhos alternativos inteligentes e criativos, com forte ativismo político para ser seguido por todos e todas que se sentem usurpados em seus direitos e deveres ontológicos e políticos radicais. Precisamos de cidadãos ativistas que saibam combater com altivez e elegância, ironia e crítica o estado de calamidade em que nos encontramos compulsoriamente.
Precisamos, portanto, de uma forma de re-existência que nos acrescente potência de mais-vida e não impotência de ressentimento, desânimo e violência de qualquer espécie. Uma potência capaz de criar outras formas de gestão da coisa pública para todos e não apenas para alguns privilegiados pregadores da desigualdade e da exclusão social na linha da “lei do mais forte”, ou melhor, da “lei do mais esperto” manipulador das normas jurídicas para interesses particulares e alheios ao bem comum. Um bem comum que precisa ser reinventado nesses tempos de retrocessos, traições e insanidades econômicas que só aumenta a pressão das multidões por justiça social/econômica, igualdade ontológica e liberdade política. Uma pressão que faz lembrar o momento que antecede a erupção de vulcões adormecidos. Como, então, evitar a catástrofe anunciada?
Dante Augusto Galeffi é doutor em educação e professor adjunto da Faculdade de Educação da Ufba.
Fonte: aratuonline.com.br