Em discurso de 5 minutos, presidente “exigiu” investigação rápida e disse que se explicará no Supremo Tribunal Federal, que abriu investigação contra ele
Em pronunciamento oficial, o presidente Michel Temer (PMDB) afirmou na tarde desta quinta-feira que não vai renunciar ao cargo em razão da delação premiada de executivos da JBS, que veio à tona na noite de ontem e foi homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). “Não renunciarei. Repito, não renunciarei! Sei o que fiz e sei da correção dos meus atos. Exijo investigação plena e muito rápida, para os esclarecimentos ao povo brasileiro”, disse Temer, procurando demonstrar firmeza e segurança num momento em que crescem as especulações de que ele vai entregar o posto.
A informação de que o empresário Joesley Batista gravou o presidente dando aval para comprar o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha (PDMB-RJ), preso e condenado na Operação Lava Jato, mergulhou o Planalto numa crise sem precedentes — a revelação foi feita pelo jornal O Globo. Os partidos da base aliada ameaçam desembarcar do governo, incluindo o PSDB. Os trabalhos no Congresso estão paralisados e parlamentares da oposição já entraram com dois pedidos de impeachment contra o peemedebista.
Em discurso que durou cerca de cinco minutos, o presidente admitiu que se encontrou com o empresário da JBS no Palácio do Jaburu, mas negou que tivesse tratado com ele sobre pagamentos para calar Cunha. “Ouvi realmente o relato de um empresário [Joesley] que, por ter relações com o ex-deputado [Cunha], auxiliava a família do ex-parlamentar. Não solicitei que isso acontecesse e somente tive conhecimento nessa conversa pedida pelo empresário”, disse o peemedebista, classificando o áudio como ilegal. “A revelação de conversa gravada clandestinamente trouxe de volta o fantasma de crise política de proporção ainda não dimensionada”, completou.
O presidente também ressaltou que as revelações da JBS interrompem a retomada do crescimento econômico do país, jogando “tanto trabalho no lixo da história”, e que a sua biografia é ilibada. “Por uma razão singelíssima, não temo nenhuma delação. Não preciso de cargo público nem de foro especial. Nada tenho a esconder. Sempre honrei meu nome. A investigação pedida pelo STF será território onde surgirão todas as informações e no Supremo demonstrarei não ter nenhum envolvimento com esses fatos”, afirmou o presidente.
Confira o pronunciamento em vídeo:
Leia o pronunciamento na íntegra:
“Olha, ao cumprimentá-los, eu quero fazer uma declaração à imprensa brasileira e uma declaração ao país. E, desde logo, ressalto que só falo agora – os fatos se deram ontem – porque eu tentei conhecer, primeiramente, o conteúdo de gravações que me citam. Solicitei, aliás, oficialmente, ao Supremo Tribunal Federal, acesso a esses documentos. Mas até o presente momento não o consegui.
Quero deixar muito claro, dizendo que o meu governo viveu, nesta semana, seu melhor e seu pior momento. Os indicadores de queda da inflação, os números de retorno ao crescimento da economia e os dados de geração de empregos, criaram esperança de dias melhores. O otimismo retornava e as reformas avançavam, no Congresso Nacional. Ontem, contudo, a revelação de conversa gravada clandestinamente trouxe volta o fantasma de crise política de proporção ainda não dimensionada.
Portanto, todo um imenso esforço de retirar o país de sua maior recessão pode se tornar inútil. E nós não podemos jogar no lixo da história tanto trabalho feito em prol do país. Houve, realmente, o relato de um empresário que, por ter relações com um ex-deputado, auxiliava a família do ex-parlamentar. Não solicitei que isso acontecesse. E somente tive conhecimento desse fato nessa conversa pedida pelo empresário.
Repito e ressalto: em nenhum momento autorizei que pagassem a quem quer que seja para ficar calado. Não comprei o silêncio de ninguém. Por uma razão singelíssima: exata e precisamente porque não temo nenhuma delação, não preciso de cargo público nem de foro especial. Nada tenho a esconder, sempre honrei meu nome, na universidade, na vida pública, na vida profissional, nos meus escritos, nos meus trabalhos. E nunca autorizei, por isso mesmo, que utilizassem o meu nome indevidamente.
E por isso quero registrar enfaticamente: a investigação pedida pelo Supremo Tribunal Federal será território, onde surgirão todas as explicações. E no Supremo, demonstrarei não ter nenhum envolvimento com esses fatos.
Não renunciarei. Repito, não renunciarei! Sei o que fiz e sei da correção dos meus atos. Exijo investigação plena e muito rápida, para os esclarecimentos ao povo brasileiro. Esta situação de dubiedade ou de dúvida não pode persistir por muito tempo. Se foram rápidas nas gravações clandestinas, não podem tardar nas investigações e na solução a estas investigações.
Tanto esforço e dificuldades superadas, meu único compromisso, meus senhores e minhas senhoras, é com o Brasil. E é só este compromisso que me guiará.
Muito obrigado. Muito boa tarde a todos.”
Fonte: http://veja.abril.com.br