Glelany Cavalcante nasceu em Feira de Santana, segunda maior cidade da Bahia. Ela mora na Itália há nove anos e tem cidadania no país.
A baiana Glelany Cavalcante venceu o Miss Universo Itália na noite de quarta-feira (18). Com isso, ela vai representar o país europeu no Miss Universo global.
Para chegar à final, a baiana de Feira de Santana, cidade a cerca de 100 km de Salvador, desfilou com roupa de gala e fantasia. Ela desfilou a última etapa com outras 21 candidatas, chegando à reta final contra Gilda Folcia e Marika Nardozi.
A modelo também foi entrevistada pelo júri e, para este momento, escolheu usar uma camiseta com uma frase da ativista feminista e poetisa Audre Lorde: “Até que todos sejam livres, nenhum de nós o será, mesmo que as suas correntes sejam diferentes das minhas”.
Glelany defendeu a solidariedade interseccional, pedindo atenção para as diferentes experiências de opressão, como racismo, sexismo, homofobia e outras.
Pouco dinheiro e um sonho: ser modelo na Europa
Glelany saiu do Brasil em 2015 com 200 euros na conta bancária e um sonho: ser modelo na Europa. O valor, na cotação atual da moeda, é de cerca de R$ 1,2 mil. Passados 10 anos, ela conquistou o título de Miss Universo Itália — o concurso escolhe, dentre 44 candidatas, quem vai representar o país no Miss Universo.
Em entrevista ao g1, a candidata contou como foi parar na Europa e por que pôde participar do concurso mesmo sem ter nascido na Itália.
A modelo nasceu e cresceu em Feira de Santana, segunda maior cidade da Bahia. De família humilde e filha de pais divorciados, ela se mudou para Brasília aos 13 anos, para morar com o pai. Foi andando em um shopping da capital do Brasil, com 15 anos, que a baiana foi descoberta por uma agência de modelos.
“Fiquei muito receosa, ser modelo não fazia parte dos meus objetivos e eu tinha uma autoestima muito baixa. Mesmo assim, resolvi tentar como uma brincadeira”, contou.
Glelany nunca tinha sonhado em ser modelo. Sofreu bullying na escola, na infância, e teve transtornos alimentares na pré-adolescência. A baiana nunca considerou a possibilidade de estrelar publicidades de moda e desfilar nas passarelas.
Mesmo assustada com o convite, ela decidiu tentar. A primeira sessão de fotos e o curso preparatório de modelo foram pagos com o dinheiro arrecadado em um churrasco da família.
“Comecei a me sentir mais segura, literalmente desabrochei e descobri ali uma paixão”, contou.
O investimento deu certo e Glelany ficou em segundo do lugar no primeiro concurso que participou, o Miss Distrito Federal, em 2012, quando tinha apenas 18 anos.
Carreira na Europa
No início da vida adulta, Glelany deixou um pouco o sonho de ser modelo de lado para se dedicar à faculdade de Direito. Ela estudava durante o dia e trabalhava como recepcionista em um hospital de Brasília, até que um outro passeio pela cidade mudou a vida dela — mais uma vez.
“Uma agência de Milão pediu para ver algumas modelos de agências de Brasília e fui acompanhando uma amiga. Chegando lá, gostaram de mim”, contou.
O problema é que a baiana não estava nas medidas exigidas para a Semana de Moda de Milão. Os agenciadores combinaram que, caso ela conseguisse emagrecer em dois meses, a levariam para a Itália.
“Cheguei na Itália com 200 euros no bolso e um sonho”, brincou.
No país europeu, a baiana conquistou trabalhos com grandes empresas de moda e beleza. Uma das conquistas foi ter desfilado com o vestido com maior número cristais bordado a mão, um total de 5 mil. A peça faz parte do Guiness Book e levou mais de 200 horas de trabalho para ficar pronto.
Devido ao trabalho, a baiana decidiu ficar no país, onde já vive há nove anos. Ela conquistou a cidadania, porque além de ter descendência por parte dos bisavós paternos, se apaixonou e casou com um italiano.
Há poucos anos, o Miss Italia tinha algumas exigências para selecionar as candidatas. Mulheres casadas e com mais de 28 anos, por exemplo, estavam fora dos pré-requisitos. Por causa disso, Glelany já tinha considerado como impossível participar do concurso, até que tudo mudou em 2024.
“Pra mim, o papel da miss não é só o concurso da beleza, a beleza é só uma vitrine. A partir dela, podemos comunicar muitas coisas importantes, ser exemplo para muitas mulheres e meninas”, afirmou.
Por causa da cidadania, a brasileira está apta a concorrer. Apesar de morar em Marche, ela representa o estado da Sicília, conhecido pelas belíssimas praias e gastronomia.
Segundo Glelany, infelizmente houve comentários negativos nas redes sociais. Por um lado, os italianos reclamaram que ela não era italiana; por outro, brasileiros disseram que ela havia “renegado as origens”.
“Uma das pautas que eu trago comigo é combater a ignorância. A imigração faz parte da história da humanidade, a pluralidade cultural é uma riqueza. Trago toda a essência baiana que tenho junto com a italiana que adquiri aqui”, contou.
Para a modelo, que é conhecida no meio como “from Bahia”, concorrer ao título de Miss Universo Itália foi a consagração dos sonhos que ela buscava ao sair do Brasil. Agora ela disputa o Miss Universo global, cuja premiação será no dia 16 de novembro, no México.
Fonte: g1.globo.com