Apesar de estar com a vida predestinada por ter nascido negro, pobre e estar inserido em diversas questões sociais, o jovem Ítalo Gonçalves, de 19 anos, mostrou que dentro das piores situações é possível encontrar uma luz no fim de no túnel. Ele é morador em situação de rua e foi preso após ser acusado de ter cometido um assalto, na última sexta-feira (18/11), a dois estudantes em um ponto de ônibus no bairro de Itapuã, em Salvador, usando arma branca.
De acordo com informações da polícia, na ocasião, ele teria sido agressivo e violento com as vítimas. Mas durante a sua apresentação na delegacia, Ítalo chamou atenção pela sua simpatia e desenvoltura musical. Ele, como todo bom baiano, conseguiu reverter o jogo e mostrar seu talento com a música de sua autoria ‘Me Libera Nega’.
Logo após a repercussão do caso, o jovem já estampava diversos sites locais e foi capaz de conseguir vários compartilhamentos nas redes sociais. Com isso, uma parceria com o compositor Filipe Escandurras foi criada e pode mudar definitivamente a sua história. A canção já foi gravada, está tocando nas rádios da cidade e, segundo Filipe, pode ser a música do verão e até mesmo do Carnaval 2017.
O compositor Filipe Escandurras, criador de musicas como Lepo Lepo, com Psirico; Fui Fiel, gravada por Pablo e por Gusttavo Lima; Tempo de Alegria de Ivete Sangalo; Saulo, com Raiz de Todo Bem, conversou com exclusividade com o Aratu Online e explicou o porque teve interesse em ajudar o jovem e gravar a música.
“O compositor geralmente costuma sentir a música, apesar de não ter a dimensão do sucesso. Quando eu escutei ele cantando no fundo da viatura, eu senti um brilho não na música, mas também na voz dele, e olhe que eu acreditei na cansão de estar na boca do povo”, contou.
Filipe, que é de origem humilde, revela a necessidade de dar oportunidades ao jovens da periferia que não chances de ter um futuro digno e veem nas droga e criminalidade uma chance de ter uma vida melhor.
“Ele já tinha essa música a muito tempo e vinha cantando para vários artistas, mas as pessoas não estavam dando atenção. Mas tudo vai depender dele se recuperar porque já estamos investindo na carreira dele”, contou.
No canal do youtube de Escandurras, a música já alcançou mais de 71.000 mil visualizações. Segundo ele, essa música vai ser nossa aposta para o Carnaval de 2017. “No Carnaval eu vou levar Ítalo do meu lado para fazermos esse verão juntos. Tem até algumas pessoas que estão me criticando, mas eu acredito que nada é por acaso, sempre tem a mão de Deus e eu estou fazendo a vontade dele”, concluiu.
Felipe postou, em sua conta no Instagram, o vídeo onde aparece ao lado de Ítalo fazendo uma participação no ensaio do grupo É o Tchan, que aconteceu neste domingo (27/11), no Clube Espanho, em Salvador. Nas imagens, eles aparecem juntos cantando a música ‘Ô me libera nega’, na lage onde acontece as ‘surprersinhas’ do show.
O Aratu Online tentou entrar em contato com Ítalo, mas de acordo com a assessoria de Filipe Escandurras ele está internado em uma clínica de reabilitação para dependentes químicos, onde deve ficar até o Carnaval.
MÍDIAS DIGITAIS
Após a repercussão da história do jovem, o questionamento sobre o poder que as redes sociais tem foi levantado. Já que o réu passou a ser ídolo, é necessário entender como os papeis podem ser invertidos como tanta agilidade.
Para o jornalista e mestre em História da Mídia, Zeca Peixoto, é possível construir e desconstruir uma carreira nas redes sociais por conta da liberdade dos usuários em criar os conteúdos.
“Os diversos canais de comunicação disponíveis, na sua maioria gratuitos, permitem que qualquer pessoa possa produzir conteúdos e, nesta ação, “vender” seu capital cognitivo. Mas as mesmas plataformas que oferecem estas oportunidades, se não usadas devidamente podem comprometer a pessoa, reduzindo seu capital simbólico”, explicou.
Ainda segundo ele, apesar de toda essa liberdade, é necessário ter o cuidado com tudo o que é produzido, uma vez que muitas coisas não são verídicas e isso pode ser prejudicial para todas as partes envolvidas. “Postar, compartilhar, dar retuiter em conteúdos que não se sabe a procedência, se é verdadeiro ou não, se fere direitos humanos, se ofende a honra e dignidade de outros ou de alguma instituição não é prudente. O registro fica como um rupestre que não se apaga”, contou.
Zeca ainda faz um alerta para aqueles que desejam usar as mídias digitais como ferramenta de trabalho. “Para pessoas que não são profissionais e que gostam de usar as redes, o que representa a maioria esmagadora dos usuários, basta prudência e bom senso, claro. Já aqueles que utilizam as redes para fins profissionais, mesmo que seja para angariar capital social à sua pessoa, sim, é necessário planejar, ter consultoria e atuar com estratégia”, concluiu.
Confira a música na íntegra. Veja vídeo:
Fonte: aratuonline.com.br