O relatório anual do Itaú BBA sobre as finanças do futebol brasileiro, divulgado nessa terça-feira (28), mostra que o Atlético tem a maior dívida entre os grandes clubes do país. O endividamento do alvinegro passou de R$ 614 milhões, em 2018, para R$ 746 milhões, no ano passado. O ranking dos mais endividados é seguido por Botafogo (R$ 708 milhões), Corinthians (R$ 652 milhões) e Cruzeiro (R$ 631 milhões).
A avaliação da consultoria é pessimista. “O Atlético Mineiro está se colocando em risco. O desempenho financeiro de 2019 foi bastante fraco, especialmente se considerarmos o aumento de dívidas bancárias e com impostos. Para fechar as contas, se valeu de uma venda de atletas registrada no último dia do ano e da doação de um terreno”, ressalta o Itaú BBA.
A consultoria lembra que o Atlético correu risco de perda de pontos no início da temporada pelo não pagamento de dívidas na Fifa, mas “optou por seguir uma prática antiquada e comum ao futebol associativo brasileiro, que é utilizar de um empresário/associado para cobrir não apenas exigências urgentes, mas também para bancar contratações e remunerações que reforçam o elenco”. E completa: “O resultado dessas ações costuma ser ruim, porque há atletas que recebem e outros que não recebem”.
As receitas brutas totais do clube cresceram 7% e, as recorrentes, 8%, mas os custos saltaram 19%. As receitas mais relevantes foram com TV, mas a venda de atletas se manteve importante no ano passado. Também houve aumento com os gastos com folha de pagamento. O Atlético também fez um ajuste nas receitas, ao lançar R$ 49,1 milhões do terreno doado pelo empresário Rubens Menin para a construção da Arena MRV.
As dívidas do Atlético no ano passado cresceram 20%, especialmente as onerosas, que tiveram salto de 14%, basicamente, dívidas bancárias e as com impostos e acordos, que cresceram 20%. As despesas operacionais se mantiveram estáveis.
A alavancagem é bastante alta, segundo o Itaú BBA. A parcela de curto prazo chega a 125% das receitas totais, e a dívida total é 365% das receitas recorrentes. Os investimentos em 2019 foram menores do que no ano anterior, contudo totalizaram R$ 42 milhões basicamente com o elenco profissional.
O Atlético contabilizou a venda de 50,1% do shopping DiamondMall em janeiro deste ano por cerca de R$ 300 milhões e cerca de R$ 18 milhões em aluguéis a receber. Esse recurso será usado para a construção do estádio. O Itaú BBA indica que, se o Atlético fizesse a venda do restante do shopping pelo menos valor, ele poderia reduzir a dívida para níveis mais razoáveis, mas ainda altos.
A geração de caixa (Ebitda) foi de R$ 14 milhões. A consultoria observou impacto nas contas de giro, especialmente nas relacionadas à venda de atletas, com dedução de R$ 34,8 milhões, sendo a maior parte referente ao atacante Chará, negociado com o futebol norte-americano, que ocorreu em 31 de dezembro e impactou R$ 24,2 milhões. “Se ajustássemos receitas e custos ao efeito caixa em giro, o Ebitda seria negativo em R$ 8,7 milhões”, diz a consultoria.
O Atlético fez um investimento na base e no profissional de R$ 41 milhões. Mesmo com a entrada dos Impostos, o fluxo de caixa do negócio foi negativo em R$ 39 milhões. Por isso, o clube recorreu a empréstimos bancários de R$ 45,8 milhões. “Isso ajudou a cobrir o buraco operacional e outros pagamentos menores, encerrando o ano praticamente com o mesmo caixa de 2018”, explicou.
O Itaú BBA ainda projeta o cenário do Atlético para 2020. “Em função dos movimentos de contratações lastreadas em recursos de patrocinadores e sócios, é difícil mensurar os efeitos do ano de 2020 para o Atlético Mineiro. Afinal, não está clara qual será a forma de aporte do recurso no clube, se através de patrocínios diretos, antecipação de patrocínios futuros ou mesmo empréstimos. Optamos por considerar parte dos valores entrando como patrocínio diretamente”, informou a consultoria.
O Itaú BBA ressalta a importância que os movimentos sejam apresentados de maneira clara para o torcedor. A consultoria acredita em um 2020 com menos receitas (provavelmente por conta da pandemia do novo coronavírus), mas que podem ser alteradas tanto com a entrada de mais patrocínios como pela venda de atletas.
“Nos custos e despesas, esperamos um cenário parecido com 2019, pois consideramos que os aumentos de custos com contratações serão compensados em parte com a redução de outros custos e despesas. Naturalmente, isso pode ser diferente, e o resultado, pior do que projetamos”, analisou.
Sobre os recursos aportados via empresário/associado, referindo-se à família Menin, o Itaú BBA conclui que “o ideal, nesses casos, é que o patrocinador entre com aporte recursos para garantir a operação do clube, organização corporativa e, assim, os impactos financeiros positivos chegam no médio ou longo prazo”. “Há caminhos mais seguros para o futuro. O Atlético Mineiro parece ter escolhido um cheio de riscos, guiando-se olhando o retrovisor”, concluiu.
Fonte: otempo.com.br