2. desejo irrefreável de possuir ou gozar o que é de outrem.
A filha nº 2 do dono do Baú, Silvia Abravanel, publicou neste sábado (9), em sua página no Facebook, um vídeo da época em que o pai e patrão ainda tinha a verve política correndo nas veias, e usava da eloquência, e do SBT, para propagar recados muito contundentes.
Silvio Santos, como se sabe, já foi muito pobre, mas desde sempre muito talentoso. E teve, por diversas vezes, negativas como resposta quando ainda tentava carreira no rádio e na televisão; sendo que já era, àquela época, reconhecido pelas ruas de São Paulo. No vídeo, ele relata o quê a inveja e a ganância no meio empresarial podem provocar em quem tem muito a oferecer, mas ainda procura um lugar ao sol; coisa que o levou não só a estar na TV, como a ser dono de uma.
Veja:
Já um filósofo contemporâneo nosso, Leandro Karnal, afirma que a maioria dos brasileiros hoje se sente invejado, mas não invejoso – o que, claro, leva à uma contradição gritante. Diz ainda que o sentimento, dos mais sorrateiros que podemos nutrir, “nunca é positivo”, ainda que seja uma constante principalmente dentre os que possuem algum tipo de limitação, seja física, financeira, intelectual ou de personalidade. Pode-se ser invejoso desde o berçário. Afinal, é desde lá que somos expostos, e julgados, através de uma vitrine precoce.
Mas é na maturidade que passamos a lidar, mais claramente, com a noção de que nem sempre, e nem todos, vão querer o nosso bem. O ambiente de trabalho, desde que o mundo é mundo, carrega consigo a pecha de ser o playground de quem nasceu para brincar de puxar o tapete alheio. Ao longo do tempo, empresas e departamentos de RH se contorcem para conter tais impulsos os quais, não é nenhuma supresa, fazem cair consideravelmente os rendimentos laborais deste ou daquele funcionário, que, se não imediatamente detectado, pode contaminar toda uma organização.
“É um dos nossos sentimentos mais primitivos. Quando começamos a perceber o mundo, a inveja logo se manifesta: o que o outro tem, eu quero ter ou quero ser”, afirma o psiquiatra José Toufic Thomé, co-autor da tese Um Estudo Sobre a Inveja no Ambiente Organizacional. O afã de querer o insucesso alheio em detrimento do próprio pode ser tamanho que, em uma média empresa, consegue levar abaixo cerca de 43% do que seria considerado o resultado mediano da organização.
E aqui vai um alerta.
Costuma-se crer que o invejoso é aquele que ainda não ascendeu profissionalmente. Contudo, como disse Silvio lá no início, em muitos o sentimento se torna tão corrosivo que passa a ser patológico, sendo já intrínseco àqueles indivíduos. Por isso, não são poucos os gerentes, diretores, autoridades e alto executivos que, por mero capricho, tendem a dificultar ao máximo a vida dos que identificam possuir algum tipo de talento. É a forma covarde que têm de se defender do que consideram uma ameaça, na maioria das vezes inexistente.
O filósofo Leandro Karnal – (Foto: ASCOM/ Prefeitura de Campinas)
Um termo alemão chega até a designar o êxtase que se diz ter ao ver o fracasso dos que são invejados. “Schadenfreude”, palavra sem tradução na Língua Portuguesa, alude à uma espécie de gozo mental diante da demissão, doença ou baixa audiência alheia. Isso, no entanto, não é natural. Tampouco saudável. De acordo com Márcia Chaves, chefe do Departamento de Neurologia do Hospital das Clínicas de Porto Alegre, esses indivíduos “muitas vezes, apresentam traços de uma personalidade sociopata, com comportamentos não aceitáveis socialmente. Eles não querem mais o que o outro tem, mas sim ser exatamente o que o outro é”.
Diante da vergonha em admitir tal comportamento, é muito comum que a inveja seja propositalmente confundida ou diluída em outros sentimentos, os quais, se bem canalizados, nada têm de perigosos. A cobiça e a ambição, ou seja, quando se toma alguém como referência na intenção de seguir seus passos, em nada têm a ver com a pretensão de usurpar o lugar desta pessoa, ou impedi-la de chegar até ele.
Portanto, é preciso que se grafe que inveja, no ambiente profissional, é um lamentável estágio de autoafirmação ou frustração patológicas. Não à toa é um dos sete pecados capitais, definida por São Tomás de Aquino como “tristitia alienum bonum“, que, em latim, diz: “a tristeza pela felicidade dos outros.”
Como a doença, o remédio é tão assim dependente do caráter do indivíduo: é preciso evoluir, produzir seus próprios caminhos e estradas à revelia da tentação de checar se o gramado alheio está mais florido. É preciso ser ético, humano, justo e generoso; e, nem por isso, menos bem sucedido.
Melhoremos.