Comprado em um pregão da Christie’s, em Londres, por R$ 100 mil, o descobridor de Retrato de um Jovem Cavalheiro, pintado no século XVII, pode ganhar milhões com a obra
A descoberta que mudou a vida de Jan Six aconteceu em novembro de 2016: negociante holandês de arte de 40 anos, ele chamou a atenção do mundo inteiro no final do ano passado quando anunciou que a tela que tinha encontrado dois anos atrás em um leilão era uma pintura até então de desconhecida de Rembrandt, um dos mestres mais referenciados da Holanda. Foi a primeira obra de Rembrandt achada em 42 anos.
A descoberta não aconteceu em explorações a igrejas remotas do país ou procurando nos sotões das grandes mansões da Europa, mas em um dia chuvoso em que ele checava seu e-mail. Ele contou ao jornal NRC que tinha levado seus filhos para a escola e havia chegado ao escritório, no piso térreo de um edifício do século XVII ao lado do canal Herengracht, um dos principais de Amsterdã, e depois de pagar algumas contas e realizar alguns contatos, abriu o catálogo de um leilão de arte que havia recebido no dia anterior e que aconteceria na famosa casa britânica Christie’s, em Londres.
“Eu estava rolando o catálogo para baixo quando vi uma obra que não me era estranha. Fui até minha biblioteca procurar alguma tela semelhante, mas acreditei que não era um quadro reconhecível, mas o fato dele ser semelhante às características de Rembrandt”, contou.
A tela no catálogo datava de algum mês entre 1633 e 1635, mas o que excitou Six não foi apenas que a Christie’s, uma das leiloeiras mais famosas do mundo, tinha deixado de ver que a obra era provavelmente do mestre holandês, mas também que ela tinha colocado a peça à venda como se fosse “do círculo de Rembrandt” — ou seja, de um dos seus seguidores.
“Você logo vê o problema, não é? Rembrandt não era famoso no começo dos anos 1630, então não havia um círculo. Eu percebi imediatamente que a Christie’s estava cometendo um erro”, comentou.
Como possui contatos entre negociantes de várias partes da Europa, Six logo soube que a tela do leilão fora propriedade de Sir. Richard Neave, um mercante inglês do final dos anos 1700 que tinha uma grande coleção de arte, incluindo obras de Thomas Gainsborough e John Constable. A tela ficou na mesma família por seis gerações e já era valiosa só pelo fato de ter atraído a atenção de alguém como Neave.
Excitado, Six pegou sua bicicleta e correu à casa de Ernst van de Wetering, reconhecido mundialmente como uma autoridade em obras de Rembrandt. Mostrou-lhe uma fotocópia do quadro e recebeu uma reação intrigada: a obra parecia do pintor, mas era completamente nova também para ele. No mesmo dia, o negociante comprou passagens aéreas para Londres. Havia pouca gente no leilão e, depois de passear pelas peças em exposição, se colocou diante do quadro desconhecido, Retrato de um Jovem Cavalheiro, com as tradicionais cores escuras usadas pelo mestre holandês.
De volta a Amsterdã com o quadro, Six o levou para van de Wetering que, por sua vez, encaminhou a obra para uma pesquisa histórica e uma investigação técnica que durou dois anos. No final do ano passado, enfim, saiu o resultado: a tela não era de nenhum pupilo, mas do próprio Rembrandt, pintada quando ele tinha 28 anos. Além do historiador e de Siz, outros 15 conservatórios e investigadores holandeses e do exterior chegaram à mesma conclusão. O retrato de 94 por 73 centímetros chegou à Christie’s por meio de um membros da família de Neave e foi negociada por cerca de R$ 100 mil.
Jan Six disse ao jornal NRC que já encontrou um investidor que topou investir milhões de euros no quadro. Mais do que isso, o misterioso interessado poderia ser o comprador, pagando até R$ 715 mil por ele. O negociante planeja vender o retrato, apesar de não dizer o preço, mas revelou que o valor da descoberta é ainda maior. “É algo que muda a sua vida”, comemorou.
Retrato de um Jovem Cavalheiro tem muito em comum com Marten, o rapaz que aparece nos retratos do casamento de Marten e Oopjen que Rembrandt fez e que foram comprados pelo Museu do Louvre, na França, e pelo Rijksmuseum, em Amsterdã, há três anos, por 160 milhões de euros (R$ 727 milhões).
Six, que é descendente do ex-prefeito de Amsterdã, Jan Six — que foi pintado por Rembrandt –, revelou também que recebeu ofertas de outros museus europeus, mas que ainda está experimentando a glória da comprovação do quadro ter saído das mãos do gênio holandês. Agora, o retrato achado está em exibição no Hermitage, em Amsterdã, por tempo limitado.
Fonte: usp.br – Queagito.com