O governo da Ucrânia confirmou em suas redes sociais na tarde deste domingo (27) a destruição do Antonov An-225, considerado o maior avião do mundo. Em meio ao conflito envolvendo a Rússia, o aeroporto de Gostomel, em Kiev (capital do país), foi atacado, destruindo o local onde o cargueiro se encontrava.
A situação do avião era incerta desde o fim da semana passada, com o avanço de tropas russas no país. Após os primeiros ataques, circularam boatos envolvendo a equipe que opera a aeronave de que ela estaria intacta, mas isso não durou.
O cargueiro havia voltado a voar em junho de 2021 após ficar parado por cerca de dez meses, período em que houve a troca de motor e implementação de melhorias em seus sistemas.
The biggest plane in the world “Mriya” (The Dream) was destroyed by Russian occupants on an airfield near Kyiv. We will rebuild the plane. We will fulfill our dream of a strong, free, and democratic Ukraine. pic.twitter.com/Gy6DN8E1VR
— Ukraine / Україна (@Ukraine) February 27, 2022
Carga pesada
Ele era considerado o maior avião em operação, com peso máximo de decolagem de 640 toneladas, o que inclui o peso da própria aeronave somado ao combustível e à carga transportada.
Sua capacidade o coloca à frente até mesmo do Airbus A380 e do Boeing 747, os maiores aviões de passageiros do mundo na atualidade, com peso máximo de decolagem de até 572 ton e 447,7 toneladas, respectivamente.
Ele perdia apenas em envergadura para o avião estadunidense Stratolaunch. Enquanto o modelo ucraniano possuía uma distância de ponta a ponta da asa de 88 metros, o Stratolaunch possui 117 metros de envergadura, mas um peso máximo de decolagem de cerca de 590 toneladas.
Para conseguir sair do chão, o An-225 conta com seis motores, e seus trens de pouso têm 32 pneus ao todo (quatro no trem dianteiro e 28 no trem principal).
Impacto na economia
O tamanho e capacidade de carga do An-225 tornam possível que várias peças e equipamentos sejam transportados ao redor do mundo. Com capacidade para transportar até 250 toneladas no compartimento de carga, ele se torna uma peça chave para algumas indústrias enviarem sua produção para locais onde serão utilizadas, o que pode gerar impactos na economia a longo prazo.
Em 2016, por exemplo, ele passou pelo Brasil, onde passou pelos aeroportos de Guarulhos (SP) e Viracopos (Campinas). Ele decolou do Brasil levando um gerador de 150 toneladas e a base do equipamento, com 30 toneladas, com destino ao Chile.
Os mesmos produtos, se fossem levados por terra, envolveriam muito mais custos. Seria praticamente impossível o transporte dessa maneira, já que as vias não costumam comportar tanto peso, além do tempo que isso levaria.
Fim do ‘sonho’ e possível renascimento
O AN-225 também é chamado de Mriya, que significa sonho ou inspiração em ucraniano. Ele ainda é conhecido pela designação de Cossaco, dada pela Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).
A fabricante Antonov iniciou a produção de uma segunda unidade ainda na década de 1980, mas o projeto foi abandonado. O esqueleto desse novo exemplar encontra-se guardado até hoje na fábrica da Antonov, na Ucrânia.
Se sobreviver aos ataques, sua construção poderá ser terminada, e o Mriya voltará aos céus. Essa possibilidade, inclusive, já chegou a ser cogitada em meados da década passada, e seria realizada em parceria com a China, porém, não evoluiu.
Estima-se que o custo para terminar a segunda unidade do An-225 custe mais de R$ 3 bilhões, e esse valor deve crescer, já que o projeto é antigo e precisaria passar por uma modernização.
Em entrevista ao site Kyiv Post, o presidente da fabricante, Oleksandr Donets, descartou finalizar o segundo exemplar, afirmando que ele teria de ser redesenhado para se adaptar às inovações tecnológicas mais recentes. Entretanto, isso pode mudar com a atual situação.
Histórico
O Mriya foi desenvolvido a pedido do governo da então União Soviética na década de 1980 para o transporte do Buran, o ônibus espacial russo, e do foguete propulsor Energia.
O primeiro voo do AN-225 ocorreu em dezembro de 1988, mas foi apenas em maio de 1989 que ele levou sua principal carga, o Buran.
Tanto a espaçonave quanto o foguete russos foram acoplados na parte superior para serem transportados. Para isso, o projeto da cauda do avião teve de ser adaptado e passou a ter um estabilizador vertical duplo, já que o fluxo de ar causado pela carga na parte de fora poderia dificultar o controle em voo nos modelos tradicionais.
Sua tarefa, inicialmente, era de transportar as várias partes do ônibus espacial, que foram produzidas em diversos locais da União Soviética, para o cosmódromo de Baikonur, o maior do mundo, localizado no Cazaquistão (então pertencente ao bloco de países comunistas).
Entretanto, com o fim do financiamento do programa espacial, o avião deixou de voar em 1994, e ficou parado até 2001, quando voltou como cargueiro comercial após passar por uma modernização.
Recordista
De acordo com a Antonov, o modelo já quebrou centenas de recordes, como o transporte de carga mais pesada por meio aéreo e de carga mais comprida levada em um avião.
No Guinness, o livro dos recordes, o avião consta em pelo menos três recordes:
-O item mais comprido transportado em um avião: Em 2011, o AN-225 transportou duas pás de turbinas eólicas, com 42,1 metros de comprimento, entre a China e a Dinamarca. O avião teve de pousar em um aeroporto militar, o único capaz de receber uma carga tão grande.
-O de item mais pesado transportado por via aérea: Foi um gerador de energia com peso de 187,6 toneladas, que decolou do aeroporto de Frankfurt (Alemanha) em 2009.
-O de aeronave mais pesada de todos os tempos: O avião consegue decolar com um peso total de 640 toneladas. Seu projeto inicial conseguia sair do chão com até 600 toneladas, mas, após a reforma entre os anos de 2000 e 2001, sua capacidade foi aumentada
O Antonov AN-225
-Dimensões: 84 m de comprimento por 88,4 m de envergadura (distância de uma ponta da asa à outra) e altura de 18,2 m
-Área da asa: 905 m²
-Velocidade de cruzeiro: 800 km/h
-Distância máxima de voo: 15,4 mil km, quando está vazio, ou cerca de 4.000 km, com carga máxima
-Peso máximo de decolagem: 640 toneladas
-Peso máximo da carga transportada: 250 toneladas
-Altitude máxima de voo: 9.000 metros
-Seis motores ao todo
-O trem de pouso tem 32 pneus (quatro no trem dianteiro e 28 no trem principal). Por ser um modelo único, tem de transportar pneus reservas em cada voo caso ocorra algum problema.
-O avião tem um guindaste interno para a movimentação de cargas
-O modelo foi baseado no seu irmão menor, o AN-124 Ruslan
-Em 2016, o avião transportou um transformador de São Paulo para o Chile, com o peso total de 182 toneladas. Segundo o fabricante, foi o a segunda maior peça transportada por via aérea no mundo e a mais pesada entregue por meio de uma aeronave na América do Sul
-O nariz do avião levanta e a parte da frente abaixa quando está sendo carregado, para facilitar a entrada da carga
-A tripulação do AN-225 é composta por, pelo menos, seis pessoas, entre elas, os pilotos e engenheiros de voo. Em missões com duração maior, esse número pode dobrar
-A parte de cima do avião é onde fica a cabine de comando e a área para descanso da tripulação
-A vida útil do avião deve ir até, pelo menos, 2033, quando completará 45 anos de serviço e terá sido operado 20 mil horas em 4.000 voos
Fonte: economia.uol.com.br