RIO – Existem algumas formas para atravessar quase 9 mil quilômetros de Winsconsin, nos EUA, até o Rio, passando pelo Caribe, Norte e Centro-Oeste do Brasil. O fato é que poucos pensariam em construir o próprio avião para realizar essa viagem, mas essa foi a alternativa escolhida pelo casal Guilherme e Mary Barros, que pousaram na tarde desta quinta na pista do Clube Céu, em Santa Cruz.
A aventura começou no último dia 22 de fevereiro, quando decolaram de Winsconsin. As paradas seguintes foram Atlanta, Flórida, Bahamas, República Dominicana, Porto Rico, Antígua, Grenada, Guiana, Boavista (RR) , Alto Floresta (MT), Brasília e Rio. Um grande deslocamento que impressiona ao se descobrir que Guilherme é um mero piloto amador, que iniciou seu hobby em 2015.
— Trabalho com Tecnologia da Informação, sentado à frente do computador o dia inteiro. Queria fazer algo diferente, com as mãos. Daí veio a ideia da aviação, que é algo que sempre gostei — explica o brasileiro de 40 anos, que mora nos EUA desde os 18, quando foi fazer psicologia na faculdade, e lá se estabilizou. — Nos EUA, é fácil comprar um kit, com todas as peças pré moldadas. Você precisa encaixar tudo corretamente, levei três anos para isso. Ao final, um funcionário da Força Aérea faz uma inspeção e libera para voos.
Com o pontapé dado, o casal realizou os cursos necessários para obtenção de licença de piloto amador. O inicial dura cerca de seis meses, e com isso já é possível pilotar em qualquer lugar dos EUA. De meados de 2018, quando o avião ficou pronto, até hoje, eles já voaram 500 horas, número considerado alto, já que a média de pilotos amadores nos EUA é de 50 horas por ano. O avião é um monomotor, modelo RV9A, com dois assentos, e tem autonomia de média de cinco horas.
— Uma das motivações dessa viagem é incentivar a aviação amadora e experimental no Brasil, país onde essa prática ainda é muito restrita. Mostramos que é uma viagem segura, e um setor que aquece economia e incentiva a engenharia — afirma Guilherme. — É possível comprar esse tipo de kit aqui no Brasil, mas a produção está mais difícil, pois o governo vem implementando muitas regras — diz. A viagem está sendo registrada na página https://www.instagram.com/buildflygo/.
Acostumados a viajar por cidades americanas, o casal conta que a chegada ao Brasil não foi tão fácil. Além das autorizações prévias exigidas pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), as tarifas para pouso e estacionamento do avião são muito mais altas que nos EUA.
Lá eles investem em aeroportos pequenos, há muito mais oferta. Então temos que planejar com muito mais atenção, porque se a distância é maior, e o tempo estiver ruim, precisa voltar e ter combustível suficiente. Combustível é caro, mas o maior custo é a tarifa em aeroportos. Em Boa Vista, por exemplo, cobraram R$1.100 de pouso e duas pernoites. Nos EUA quase não há cobrança por pouso, e o pernoite às vezes custa 5 dólares — diz Guilherme.
Fonte: https://extra.globo.com/