A premiada atriz de Orange is the New Black estampa a edição de fevereiro da COSMO África do Sul
Modéstia à parte, a gente sabe que a COSMOPOLITAN é quebradeira — seja no Brasil seja nos outros 70 países nos quais o título é publicado. Fevereiro trará uma marca importante a publicação que existe há 45 desses no Brasil: a COSMO Sul Africana tem ninguém menos que Laverne Cox na capa. Essa é a primeira feita com uma mulher transexual entre todas as revistas.
Laverne não se destaca só pela beleza. Ela também é uma ótima atriz e tem um Emmy para provar seu potencial. “Estou muito orgulhosa e honrada de ser a capa da COSMO”, escreveu em seu Instagram.
A COSMO Brasil (ou seja, nós mesmas), já entrevistou a atriz. No papo, ela falou sobre seu papel na produção da Netflix e os preconceitos que enfrentou em sua vida.
Você é uma mulher de grandes conquistas e inspira muita gente. Como se sente em relação a tudo isso?
Gosto de lembrar que outras pessoas que são transexuais e incríveis também foram indicadas ao Emmy, como Chaz Bono e Angela Morley, e tornaram possível eu estar vivendo esse sonho. Existem exemplos que vieram antes de mim e é importante dar valor a eles. Estou vivendo o que sempre quis publicamente e faço um trabalho que amo… Sou grata por tudo.
Como foi a sua reação ao descobrir que tinha sido escalada para o papel em OITNB?
Meu agente me ligou para me dar a notícia e eu comecei a gritar no meio da rua. As pessoas me olhavam com uma cara do tipo: “Quem é essa louca gritando nas ruas de Nova York?” Fiquei muito animada porque era um grande projeto e eu queria fazer parte dele. Só não tinha ideia de que a série se tornaria esse fenômeno mundial.
E tem alguma história engraçada dos bastidores para contar?
Muita coisa acontece por trás das câmeras. Eu me lembro do meu primeiro dia no set. Fui comer e uma mulher chegou perto de mim e estendeu a mão para me cumprimentar. Ela disse: “Meu nome é Jodie e eu vou dirigir esse episódio”. E era a Jodie Foster!!! Eu falei assim: “Ah, sim, eu sei quem você é. Por que você está falando comigo?” Brincadeira, a parte do falando comigo eu não disse em voz alta [risos]. Fiquei completamente impressionada porque sou muito fã dela. Trabalhar com Jodie Foster com certeza é um dos pontos altos da minha carreira.
Você recebeu conselhos de carreira que gostaria de dar a alguém que está começando a atuar?
Uma mentora me disse que aqueles que conseguem uma carreira bem-sucedida como ator são aqueles que continuam tentando. Você não pode desistir, esse é o único jeito. Mas é preciso se esforçar também. Treinar, estudar… Então nunca desista e faça o seu trabalho. É difícil, mas a vida no show business é assim…
Você pensou em desistir alguma vez?
Claro! Antes de conseguir o papel em Orange, eu estava pensando em voltar para a faculdade, estudar jornalismo. Na época, mal tinha dinheiro para pagar o aluguel. Daí, fiz a audição para a série, e o resto é história…
Qual a sensação de ser um modelo para muitas pessoas?
Não gosto do termo “modelo”, prefiro algo como “inspiração”, que faz as pessoas notarem que existe uma possibilidade para elas também. Essa é uma pressão que sinto quase diariamente, mas tenho que lembrar que o meu trabalho é falar a verdade sobre as minhas experiências e o mundo ao meu redor. Além de ser sincera com o meu trabalho de atriz. Quero que as pessoas se inspirem nessa honestidade.
Você sofreu bullying na escola. Tem alguma dica para quem está passando por isso na escola ou ainda na vida adulta?
O que me fez superar o bullying quando eu era mais nova foi me dedicar à arte, à dança e à minha imaginação. Eu ficava imaginando que existia um mundo melhor e maior do que aquele. Mas é importante ter objetivos e aspirações maiores do que aquela situação. É preciso lembrar que você não é o que as pessoas estão dizendo. Existe algo bonito e que vale a pena dentro de todos nós e que não tem nada a ver com as coisas negativas que alguém pode dizer sobre você. É algo bem maior. Para mim, a educação e a imaginação foram essenciais.
Quando criança, você tinha problemas para entender quem era?
Eu me sentia uma menina desde muito cedo. Mas não me relacionava com os transexuais. Sabia o que era, mas sentia que quem eu era não se encaixava no meu corpo. Foi só quando mudei para Nova York e comecei a conviver com as pessoas que trocaram de sexo que entendi que era uma delas. Quando fiz a mudança de gênero, não queria perder quem eu era, queria apenas ser uma versão melhor de mim mesma, não outra pessoa.
Rolou medo de não ser aceita e não ter o amor da sua família ao se revelar?
Quando realmente decidi fazer a mudança, eu já não estava satisfeita com o meu gênero havia anos. No colegial comecei a usar maquiagem e roupa de meninas, fui mais para um lado andrógino, deixei meu cabelo crescer… Quando finalmente decidi pedir ajuda médica, já não estava vivendo meu gênero de nascimento. Sempre fui eu mesma e lentamente me transformei na mulher que sou hoje. Fui abençoada com uma família que me ama e me apoia, mas o primordial para mim era ser eu mesma.
Fonte: cosmopolitan.abril.com.br