“Eu quero, eu posso, eu necessito”. As frases soam como mantra de algum folheto barato de autoajuda, mas também podem representar um resumo de como funciona a cabeça do consumidor brasileiro. A definição se assemelha à metáfora do diabinho que sussurra ao pé do ouvido aquele pecado que você sabe que não deveria, mas te consome por dentro tamanha é a vontade de cometê-lo.
Fora do mundo imaginário, os brasileiros são obrigados a lidar diariamente com problemas reais, frutos de uma crise que já entrou no terceiro ano. As últimas pesquisas apontam 13 milhões de desempregados no país. São cerca de 60 milhões de pessoas endividadas. “Vivemos um período de instabilidade política que retroalimenta a econômica”, explica o professor e economista Isaías Matos.
Em cenários como esses, ajustes se fazem necessários. É preciso reorganizar o orçamento e, dizem os estudiosos, cortar tudo o que é dispensável da lista de gastos. Mas aí entra outro ponto chave: o que o brasileiro aceita tirar da lista de custos hoje em dia? Em novos tempos, os parâmetros também mudaram.
“Isso depende muito do que é prioritário para cada um. Houve uma mudança também no perfil do consumidor, que redefiniu o que é ou não importante. Essa mudança vem muito de um comportamento que está ligado ao empoderamento. Nunca estivemos tão empoderados. As pessoas incorporaram ao seu cotidiano coisas que antes eram tidas como supérfluas. Hoje, não é só alimentação ou vestuário. A internet, por exemplo, passou a ser prioridade. O que antes era supérfluo, elas incorporaram ao fundamental”, explica Matos.
Essa nova escala de prioridades é que faz você, que está lendo esse texto, priorizar o pacote de internet do celular, ou a assinatura da Netflix, deixando outras contas mais “tradicionais” em segundo plano.
“Nos últimos anos houve duas mudanças básicas. A primeira delas é que o consumidor está mais exigente. A segunda é que as empresas se diversificaram e ampliaram as ofertas de produtos. Muitas têm conseguido êxito, mesmo tendo de lidar com um comprador mais cauteloso”.
E não para por aí. O jogo de poder e ostentação, de mostrar o que se tem e garantir alguns pontos na escala de hierarquia social, também pesa nesta equação. “O evento demonstração, de ver e querer o que o vizinho possui, fruto do marketing de massa, tem uma importância fundamental. Você cria a demanda e muda os padrões de consumo e as empresas são extremamente competentes ao fazer isso”.
Com novos hábitos de consumo ou não, certo é que uma coisa nunca muda: é impossível ter uma vida financeira saudável quando se gasta mais do que ganha. E para não estourar o limite do cartão de crédito ou criar uma nova lista de débitos, existe uma única fórmula, que nada tem de nova.
“Temos uma receita que deixa qualquer um rico: gastar menos do que arrecada. Parece piada, mas é verdade. Não tem segredo. As pessoas querem começar o planejamento financeiro pelo o que gastam, mas esse processo começa quando você identifica o quanto ganha. É só colocar tudo na ponta do lápis”, resume Matos. Agora, é só anotar.
Fonte: aratuonline.com.br