Se você for tomar um avião, provavelmente vai levar seu celular com você – o que vem deixando as companhias aéreas e as autoridades preocupadas.
O recente caso dos novos smartphones da Samsung que podiam se incendiar por conta de uma falha de projeto só fez reforçar esse temor e mostrar que a ameaça à segurança dos voos é real.
Mas os problemas com o Galaxy Note 7, que foi totalmente banido por companhias aéreas e autoridades de aviação em várias partes do mundo, são apenas mais um exemplo de como os celulares vêm representando dores de cabeça nos últimos anos para o setor.
Além da combustão espontânea dos equipamentos eletrônicos, cujo perigo é mais óbvio, há outras questões menos claras, que deixam a maioria das pessoas na dúvida sobre o que é seguro ou não.
Celulares como armamento terrorista
Em um mundo pós-11 de Setembro, a luta contra o terrorismo, combinada com a ascensão meteórica do uso de equipamentos eletrônicos pessoais, deixou a relação entre aviões e telefones celulares extremamente complicada.
Em 2014, a TSA, agência americana de segurança nos transportes, formada em 2001 em resposta aos ataques de 11 de Setembro, determinou uma nova regra para o uso de equipamentos eletrônicos pessoais em voos: se você estiver viajando de um outro país para os Estados Unidos, seus equipamentos precisam ter bateria suficiente para serem ligados caso requisitado por um agente de segurança.
A razão para isso? A preocupação de que terroristas possam trocar as baterias nos equipamentos portáteis como celulares por pequenas bombas, que poderiam passar sem serem detectadas até mesmo em máquinas de raio-X ou detectores de metal, segundo a agência.
Essa norma é parte de uma série de medidas adicionais de segurança que são aplicadas a certos aeroportos no mundo, inclusive no Brasil, com voos diretos para os Estados Unidos.
Quão real é essa ameaça? O suficientemente para que os procedimentos da TSA fiquem sob o comando do Departamento de Segurança Interna dos EUA.
“A segurança da aviação inclui uma série de medidas, visíveis ou não, determinadas por um ambiente em desenvolvimento”, afirmou o secretário de Segurança Interna, Jeh Johnson, em um comunicado em 2014, sem dar mais explicações ou contexto.
A TSA começou sugerindo que os viajantes tivessem os carregadores de bateria à mão na hora do embarque.
“A TSA, em cooperação próxima com nossos parceiros da comunidade de inteligência, continua a avaliar e estimar o ambiente atual de ameaça para garantir o mais alto nível de segurança de aviação sem prejudicar desnecessariamente os passageiros”, disse a agência em um comunicado por email à BBC.
“Não vamos discutir publicamente informações sobre elementos específicos de segurança. Vamos continuar a fazer ajustes necessários aos protocolos de segurança para enfrentar uma ameaça em permanente evolução”, complementou.
Felizmente, não houve até hoje nenhum incidente a bordo de uma aeronave envolvendo uma bomba escondida dentro de um celular.
Interferência na comunicação do avião
Em todo o mundo, viajantes tomam seus assentos nos aviões para logo ouvir um pedido da tripulação que se tornou familiar: “Senhores e senhoras, por favor coloquem seus celulares em modo avião”.
Mas e se algum passageiro deixar seu celular ligado normalmente? O que é o pior que pode acontecer?
Como os celulares emitem ondas de rádio, eles podem potencialmente interferir com os equipamentos de comunicação do avião, como os sistemas contra colisão e os radares. Há até mesmo relatos de que a interferência pode ser ouvida nos fones de ouvido dos pilotos.
Essa é a razão pela qual os celulares têm a opção do modo avião – para interromper qualquer emissão de sinais pelo aparelho.
Mas a verdade é que muitos de nós já deixamos acidentalmente nossos telefones ligados durante um voo, sem que nada houvesse acontecido. Em uma pesquisa feita em 2013 nos Estados Unidos, quatro em cada dez passageiros admitiam que não colocam sempre seus telefones em modo avião durante os voos.
A Nasa, a agência espacial americana, fez uma compilação de incidentes relacionados a equipamentos eletrônicos pessoais que teriam acontecido em voos. Nessa lista, atualizada pela última vez em janeiro, ao menos cinco incidentes são relacionados a sinais emitidos de celulares.
Um dos relatos, por exemplo, diz: “O capitão registrou uma possível interferência de telefones celulares na cabine que poderia explicar as anomalias eletrônicas verificadas durante o voo”.
Mas ainda não há registro de nenhum caso de acidente aéreo grave provocado por um celular deixado fora do modo avião. Ainda assim, segundo as autoridades, é melhor errar pelo lado do excesso de precaução do que pela falta.
Acima de tudo: os aparelhos devem ser seguros
Será que todas as normas, regulamentos e checagens de segurança um dia poderão ser afrouxadas? Talvez.
Elas já foram amenizadas antes. Até 2013, por exemplo, celulares e outros aparelhos eletrônicos tinham que ser desligados completamente em muitos voos – e não somente colocados em um modo que corta os sinais.
Mas a agência de aviação americana e outras autoridades internacionais de aviação acabaram com essa exigência.
Mas além das preocupações com segurança e sinais, o que o episódio com os celulares da Samsung que pegavam fogo mostrou é que qualquer aparelho eletrônico, especialmente os movidos a bateria de íon de lítio (Li-ion), como os celulares, precisam ser absolutamente seguros fisicamente para o uso.
Essas baterias tendem a esquentar demais e a explodir – o que os fabricantes precisam levar em consideração ao produzir equipamentos que os passageiros querem ou precisam levar nos voos.
Se aparelhos eletrônicos com defeito são levados em um avião, há uma razão para preocupação.
Assim como todas as outras ameaças relacionadas aos celulares que exigem que os passageiros passem por procedimentos difíceis e demorados de segurança ou que fiquem algumas horas sem poder enviar mensagens ou checar suas redes sociais, é sempre melhor se submeter a isso do que lamentar mais tarde.
Fonte: http://tecnologia.uol.com.br/