Desde o último ano, o mundo tenta se adaptar ao novo cotidiano influenciado pela pandemia da covid-19. O cenário exigiu mudanças pouco sutis nos ambientes de trabalho e educação, favorecendo o crescimento recorde do home-office e outras alternativas aos formatos tradicionais. Contudo, esta “migração” também acelerou exponencialmente o processo de digitalização do cidadão médio, resultando no aumento sem precedentes na demanda por dispositivos eletrônicos de todos os tipos.
Consequentemente, este efeito gerou uma demanda histórica por semicondutores e componentes eletrônicos no setor de tecnologia, algo que por fim culminou em um imenso problema de fornecimento. Para o consumidor comum, este cenário foi traduzido no aumento repentino do preço de todas as categorias que necessitam de chips, que incluem desde carros até placas de vídeo para computadores e consoles.
Neste contexto, lançamentos recentes como o PlayStation 5 ou a linha RTX 3000, da Nvidia, lutam para atender a demanda do público, tendo seus estoques esgotados logo após sua listagem nas lojas varejistas — mesmo com o preço muito acima do recomendado pelas autoridades. Para a indústria automobilística, o efeito se reflete em milhares de veículos armazenados nas fábricas à espera de semicondutores, gerando prejuízos bilionários mesmo para os maiores fabricantes.
Mas, na prática, quão grave é o problema?
Aumentos de até 5.000% — até agora
Conforme aponta um levantamento da Logcomex, uma startup de inteligência e dados para o comércio exterior, componentes como os circuitos integrados eletrônicos (NCM 85423920) e circuitos para memória RAM (NCM 85423221) registraram um aumento no preço de 4.803% e 1.903%, respectivamente. Em outras palavras, isto significa que os itens custavam cerca de US$ 2,37 e US$ 4,94 ainda em julho de 2020, mas atingiram preços máximos de US$ 116,18 e US$ 99,01 apenas um ano depois.
Em entrevista ao TecMundo, o Diretor de Operações da Logcomex, Carlos Souza, conta que a situação deve perdurar. “Ainda não existe perspectiva ou previsão de normalização dos preços. A tendência é, inclusive, que os componentes importados fiquem cada vez mais caros,” ele explica.
Segundo Carlos, parte da solução do problema para o curto prazo envolve o inevitável repasse de custos para o consumidor: “toda crise comercial, como a da construtora Evergrande, é respondida com governos injetando capital nos mercados,” afirma, “(…) o efeito que acontece após isso, é a pressão inflacionária nos preços dos produtos e principalmente nos fretes.”
Para algumas empresas, como a Qualcomm, a crise de semicondutores acabará ainda no final deste ano. Contudo, outras companhias como a Intel, apontam que o caso deve piorar. Resta aguardar o desenvolvimento da indústria no combate ao problema.
Aumento na prática
Abaixo, você pode conferir o aumento no valor unitário de alguns componentes eletrônicos que sofreram aumento de preço desde o ano passado. Os dados foram levantados pela Logcomex em julho do ano passado e de 2021.
Circuitos integrados eletrônicos (NCM 85.423.920)
Julho de 2020: US$ 2,37
Julho de 2021: US$ 116,18
Circuitos integrados eletrônicos (incluindo Memórias RAM estáticas, ROM e Flash) (NCM 85.423.221)
Julho de 2020: US$ 4,94
Julho de 2021: US$ 99,01
Circuitos integrados eletrônicos (NCM 85.429.090)
Julho de 2020: US$ 85,43
Julho de 2021: US$ 844,27
Circuitos integrados eletrônicos (NCM 85.423.999)
Julho de 2020: US$ 47,54
Julho de 2021: US$ 258,92
Circuitos integrados eletrônicos (NCM 85.423.919)
Julho de 2020: US$ 61,29
Julho de 2021: US$ 202,91
Fonte: tecmundo.com.br/