Mandetta afirma que presidente contrariava decisões de ministros e que escolha por cloroquina seria para ‘reabrir economia’
“Começaram a testar pelos [quadros] graves que estão nos hospitais. Do que sei dos estudos que me informaram e não concluíram, 33% dos pacientes em hospital, monitorados com eletrocardiograma contínuo, tiveram que suspender o uso da cloroquina porque deu arritmia que poderia levar a parada cardíaca”, afirmou.
De acordo com Mandetta, a escolha do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de tratar pacientes com o uso da cloroquina, seria uma tentativa de reabrir a economia do país. Ainda segundo o ex-ministro, a queda de seu sucessor, Nelson Teich, podia ter sido causada pela recusa de uso do medicamento: “Para mim foi isso que fez com o que Teich falasse: ‘Não vou assinar isso. Vai morrer gente e ficar na minha nota’”, opinou.
“A ideia de dar cloroquina, na cabeça da classe política do mundo, é que, se tiver um remédio, as pessoas voltam ao trabalho. É uma coisa para tranquilizar, para fazer voltar sem tanto peso na consciência (…) Por isso não tem gente séria que defenda um medicamento agora como panaceia”, disse Mandetta.
Questionado sobre as divergências com Bolsonaro na época em que ocupava o cargo no Ministério da Saúde, Mandetta afirmou que os ministros tentavam “arrumar” a situação quando se tratava de precauções durante a pandemia, mas o presidente contrariava as decisões.
“É difícil coordenar um sistema [SUS] como ministro se o presidente dá outra mensagem. Entre os ministros, tentávamos arrumar a situação, mas passava um dia, três dias e novamente tínhamos uma situação contraditória [do presidente], seja de aglomeração ou ida a estabelecimentos comerciais”, afirmou.
O ex-ministro ainda revela que “ele claramente entendia que a crise econômica advinda da saúde era inaceitável, por mais que alertássemos que era uma doença muito séria e que o número de casos poderia surpreender”.
Ainda durante entrevista à Folha, Mandetta reforça a necessidade de isolamento social e distanciamento em caso de necessidade de ir às ruas, porém deixa claro que essas medidas apenas ajudarão na diminuição de transmissão.
“Não é que o isolamento vai evitar ter o vírus, Você só vai sair disso o dia em que as pessoas pegarem a doença e tiverem sistema imunológico [contra o vírus], ou que tiver uma vacina. Mas você pode influenciar a velocidade com que isso vai acontecer”, opinou.
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