Criminosos recebem produtos sem pagar após convencerem vendedores de que transação foi realizada usando e-mails falsos
Foi o caso de Anna Castro, que tentou vender um iPhone 7 na plataforma. “Assim que coloquei o anúncio grátis no Mercado Livre e na OLX, recebi um e-mail e uma mensagem dentro do site pedindo algumas explicações e querendo tirar dúvidas sobre o aparelho”, conta. Ela diz que, pouco depois, o suposto comprador entrou em contato para dizer que havia realizado a transação.
Em seguida, outro e-mail: Desta vez confirmando a compra. No comprovante de pagamento constavam todos os dados do comprador. Anna também recebeu a etiqueta de envio e as instruções e procedimentos padrão para vendedores do Mercado Livre. O problema é que, apesar de terem o mesmo layout, linguagem e fonte originais do site, a comunicação era fraudulenta. “Se não se atentar no endereço de e-mail, você realmente cai no golpe”, alerta.
Por sorte, Anna notou a fraude antes de enviar o produto. Como já tinha ouvido falar sobre a prática, conferiu o e-mail e percebeu que era falso. O prejuízo teria sido de R$1.862,90. Apesar do susto, ela não chegou a contatar o Mercado Livre ou fazer um boletim de ocorrência.
Outra vítima, que não quis se identificar, contou que por muito pouco não saiu perdendo R$ 1.700. X. chegou a despachar uma câmera Canon t3i, mas, pouco depois do envio, decidiu olhar novamente o e-mail e percebeu que era falso. Rapidamente ela entrou em contato com os Correios e conseguiu reaver o produto.
X. conta que foi enganada pela semelhança entre o conteúdo do e-mail falso e do verdadeiro. “Eu estava vendendo na OLX. O cara entrou em contato comigo, pediu meu WhatsApp e pediu pra eu colocar meu produto no Mercado Livre porque lá seria mais seguro por conta do Mercado Pago”, diz.
A vítima, então, mandou o link do anúncio no site para o suposto comprador e recebeu um WhatsApp dizendo que a compra havia sido feita e que ela receberia um e-mail de confirmação em breve, o que aconteceu de fato. “O e-mail era muito parecido com o do Mercado Livre, a identidade visual era toda parecida. Eu nunca tinha vendido nada por lá, então eu não sabia como era a questão de liberação do dinheiro. Porque no e-mail estava dizendo que seria liberado assim que eu colocasse o produto no Correio“, conta.
X. conta também que o suposto comprador pediu para que a câmera fosse enviada por Sedex. Além deste gasto, ela ainda pagou pelo seguro para despachar o produto. “Depois fui para o trabalho e fiquei com um sentimento estranho. Quando olhei com mais calma, percebi que o endereço de e-mail tinha alguma coisa de diferente, não era oficial. Entrei na minha conta no Mercado Livre e o anúncio ainda estava ativo”, lembra. A vítima conseguiu acionar a agência dos Correios a tempo e teve os valores gastos com Sedex e seguro restituídos.
Mas nem todos tiveram a mesma sorte. Em um post no Facebook, uma vítima contou que colocou um iPhone 6s Plus à venda na OLX e recebeu seis mensagens de interesse. Uma das potenciais compradoras solicitou o WhatsApp para agilizar as negociações, alegando que tinha urgência em adquirir o aparelho. A golpista passou a insistir que a transação fosse feita pelo Mercado Livre e, após receber o link da venda do celular no site, disse que a plataforma estava solicitando o e-mail de acesso do vendedor. A vítima, então, passou a informação.
Pouco depois, recebeu as mesmas mensagens que foram enviadas para as outras vítimas. Sem checar pelo próprio login no site, e confiando apenas no e-mail, ela mandou o produto, que foi recebido pela quadrilha. Mas não parou por aí: quatro dias depois, chegou à caixa de entrada da vendedora um pedido de confirmação de dados bancários, solicitando uma cópia frente e verso do cartão de crédito. Por sorte, ela não enviou as informações, que seriam a segunda etapa do golpe.
Desconfiada, ela tentou entrar em contato com o e-mail fraudulento, sem resposta. Em seguida, começou a buscar outras formas de falar com o Mercado Livre, mas não conseguiu. Após descobrir o golpe, a vítima registrou um boletim de ocorrência e, segundo ela, foi alertada na delegacia de que, na maioria vezes, este tipo de crime fica impune.
Alguns dias depois, ela voltou a anunciar na OLX e, novamente, foi contatada por uma pessoa mostrando interesse e alegando urgência. Desta vez, um homem, que ofereceu 300 reais a mais, caso a transação fosse feita pelo Mercado Livre. Após negar a proposta, feita por WhatsApp, e justificar o motivo, ela foi bloqueada por ele no aplicativo.
O que diz o Mercado Livre
O TechTudo entrou em contato com o Mercado Livre, que respondeu com uma nota. No texto, a empresa orienta como os vendedores podem se precaver e também aconselha o que fazer caso seja contatado por algum golpista. Leia:
“Para garantir uma negociação segura, o Mercado Livre orienta seus clientes a sempre verificarem o status de suas vendas e/ou compras na área “Minha conta”, disponível ao usuário logado no site. O cliente não deve considerar nenhuma mensagem nem enviar o produto antes de checar as informações de sua conta e a existência de crédito especificamente nesse canal.
O usuário vendedor é orientado também a checar a veracidade do e-mail recebido, para verificar se realmente tem como remetente o Mercado Livre ou o Mercado Pago, conformeindicado no site.
A empresa também reforça que, precisamente para garantir a segurança dos usuários, dados de contato, como endereço de e-mail e número de celular, não devem ser informados a outros usuários diretamente antes da concretização da venda por meio da plataforma. Todas essas recomendações estão disponíveis nos Termos & Condições de Uso do site, e o usuário também pode denunciar um e-mail falso neste link e na Central de Vendedores, site destinado à comunidade de vendedores do Mercado Livre”
Como se proteger
O golpe é bem orquestrado e, segundo as vítimas, o que mais engana é a semelhança entre o e-mail original do Mercado Livre e o fraudulento. Apesar de ser difícil detectar, o modus operandi dos criminosos é bastante semelhante. Por isso é importante atentar para alguns comportamentos suspeitos.
Carlos Affonso, professor da Faculdade de Direito da UERJ, Doutor e Mestre em Direito Civil, e Diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS Rio), chama a atenção para pequenos detalhes. Ele reforça que a fraude em si não é nova, o que muda para os já conhecidos crimes é o fato de os golpistas usarem diretamente o Mercado Livre para obter vantagens financeiras.
Para evitar o golpe, a melhor dica é ter atenção. “É indispensável checar que aquela mensagem vem efetivamente da plataforma. Observar o domínio do e-mail. Os criminosos podem trocar uma letra, colocar uma a mais ou a menos. São pequenos detalhes que, em uma análise rápida, a vítima pode não perceber”, atenta Affonso.
Outro ponto de extrema importância, segundo o especialista, é realizar toda a operação dentro da plataforma. Assim como destacou o Mercado Livre na nota enviada ao TechTudo, o vendedor não deve informar o e-mail ou o número do WhatsApp sob nenhuma hipótese. Além disso, Affonso alerta que não se deve clicar em links suspeitos, observando a URL com bastante atenção.
Por fim, o especialista conta que, em casos como este, a justiça tende a não responsabilizar a plataforma. Contudo, é importante registrar um boletim de ocorrência, fornecendo o máximo de informações possíveis para ajudar na identificação do criminoso. Em alguns casos, a polícia pode requerer o IP usado para aplicar o golpe. Por isso, caso esteja passando por alguma situação neste sentido, procure uma delegacia especializada em crimes de informática.
Fonte: techtudo.com.br