Terceiro dia do evento nacional promovido pelo Comitê Brasileiro de Barragens traz depoimentos do Corpo de Bombeiros Militar e da Defesa Civil e ainda um panorama sobre o estado atual da cultura de segurança nos empreendimentos baianos
Tenente coronel Adriano Marcos Miranda (CBM MG)
“Relatos de tragédias como a de Brumadinho são fundamentais a todos nós, profissionais envolvidos com barragens, pois as consequências de um acidente devem estar sempre claras. Especialmente quando estamos no escritório, atrás de uma mesa, tomando decisões que aumentam o risco dos empreendimentos e colocam a segurança em jogo,” destacou o engenheiro e consultor Joaquim Pimenta de Ávila. Ele foi o presidente do grande debate sobre Incidentes e Acidentes em Barragens de Rejeitos realizado dia 22, no XXXII Seminário Nacional de Grandes Barragens, realizado em Salvador. O debate teve a coordenação de Maurice Antoine Traboulsi, de Furnas Centrais Elétricas.
Logística de resgate
O tenente coronel Adriano Marcos Miranda, do Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Minas Gerais, abordou as ações de resgate e salvamento em Brumadinho (MG) desde o rompimento da barragem de rejeito da mineradora Vale na região de Córrego do Feijão, em 25 de janeiro deste ano. A logística necessária para as operações, que envolveram 450 a 500 profissionais por dia, foi detalhada. “Os custos foram e ainda são altíssimos; por isso a prevenção aos acidentes é a melhor saída. Neste caso, a empresa bancou custos, mas seria ainda mais difícil em caso de desastre natural ou de um empreendimento abandonado, pois as necessidades não seriam atendidas ou iriam demorar.” Ele considerou pouco eficaz o PAE – Plano de Ação de Emergência e alertou que o documento não prevê indicação de aviso e acionamento dos Bombeiros Militares que, na sua opinião, devem atuar de forma integrada desde o planejamento. Nos primeiros dias após o desastre na cidade mineira foram resgatadas 395 pessoas com vida. Nas semanas e meses seguintes, 241 corpos foram recuperados e identificados. Ao final da palestra, após um minuto de silêncio em respeito aos mortos, o palestrante foi aplaudido de pé pelo auditório lotado do Fiesta Bahia Hotel.
Carlos Henrique, tenente coronel Adriano Marques Miranda
Segundo o palestrante Rafael Pereira Machado, da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil do Ministério do Desenvolvimento Regional, o sistema de monitoramento e alerta é essencial para acionamento dos gatilhos, mas colaboração, sinergia e um plano de comunicação com as autoridades públicas são tão essenciais para o sucesso dos Planos de Contingência e de Ação de Emergência. A questão da ocupação do solo também é crucial. “O desastre do Brasil não é o natural, é o social. Não precisa da condição climática extrema para haver o desastre, porque os municípios não conseguem orientar o ordenamento do território e isso se reflete nas barragens. Mudar esse modelo social é um tema do País, da sociedade”, pontuou.
Na mesma linha de crítica à ocupação desordenada em áreas de risco, o diretor-superintendente de Proteção e Defesa Civil da Bahia, Paulo Sérgio Menezes Luz, relatou a experiência em que contou com intervenção da Justiça e Ação da Polícia Militar para evacuar parte da população de um bairro na iminência de ser destruído no município de Pedro Alexandre, interior baiano. “A cultura que temos em nosso País é a de que nada vai acontecer com a gente. Mas, na Bahia, começamos a fomentar a cultura de segurança de barragens e gestão de riscos bem antes de Mariana e Brumadinho”, afirmou. Por outro lado, quando se trata das 50 barragens de rejeitos de mineração no Estado, somente 15 cumprem o que determina a Lei 12.334, que institui a Política Nacional de Segurança de Barragens, segundo Menezes.
Amanhã acontece durante todo o dia o II Simpósio Internacional de Segurança de Barragens com a presença dos comitês técnicos da China, Estados Unidos e Espanha. Os eventos acontecem no Fiesta Bahia Hotel.
Fonte: M.Bertelli Comunicação