A drag queen baiana Natha Sympson decidiu se lançar no mundo da música em 2019. A artista gravou ao lado da sua amiga, a também drag queen Roberta Santys, a música e o clipe de “Vou Sarrar”, inspirado no verão, trazendo nas filmagens fortes cores neons e uma pool party.
A artista, que em 2017 foi criticada ao realizar uma performance no Colégio Estadual Odorico Tavares (lembre aqui), contou ao Bahia Notícias que não quer ser lembrada por esse episódio e esse foi um dos motivos que a levou a se arriscar na carreira músical.
Natha começou a fazer arte drag em 2016 e, desde então, já tinha planos de se tornar cantora. “Eu já pensava em fazer música e agora está super em alta a relação da arte drag com a música. Reencontrei a Roberta, que estudou comigo no ensino fundamental e nos juntamos para começar esse trabalho”, revela a cantora.
O clipe de “Vou Sarrar”, música que foi criada pelas duas artistas, tem o intuito de mostrar tanto o lado a diversão da capital baiana e a autoaceitação de cada personalidade. “Fizemos o clipe para todo mundo se divertir, mostrar como são as nossas noitadas de Salvador e também que você deve se autoafirmar e aceitar como você é, porque a música fala: ‘Não me faço de santa, eu sou problema’. Então seja problema, e está tudo bem você ser, ninguém precisa te julgar por isso”, explica Natha.
Para conseguir realizar a gravação do clipe, Natha e Roberta passaram por algumas complicações até chegar no produto final. “Fomos enroladas durante 4 meses por um produtor”. Segundo a drag, o profissional que ofereceu fazer a gravação da música gratuitamente, após gravar as vozes, enviou para elas um aúdio de “Vou Sarrar” com uma batida “totalmente nada a ver” com o que foi planejado. “Ficamos esperando na porta do estúdio dele para tentar resolver e ele não apareceu. Deixou a gente lá, no sol, desligou o celular, tirou a internet e não conseguimos falar com ele”, lembra a cantora.
“Voltamos para casa revoltadas e tristes com a situação. Recorremos a outro produtor, o Cleiderman Sodré. Passei a noite no telefone com ele explicando tudo o que aconteceu e pedi para ele fazer um preço bom porque não tínhamos dinheiro para sustentar uma produção de alta qualidade. Ele aceitou, fez um pacote pra gente e conseguimos fechar a gravação. Mas para conseguir o dinheiro vendemos até coisa de casa, fizemos um bazar, minha amiga vendeu a televisão dela… Eu acabei usando todo o meu dinheiro do mês, que eu tinha para me sustentar, para investir no projeto”.
Mesmo com todos os impasses, Natha disse ao BN que se manteve confiante. “Eu falei para a Roberta: ‘essa é a hora’. Conseguimos encontrar o local, fizemos uma parceria com o videomaker Junior Santoz, e apesar de ser um trabalho difícil e estressante no final deu tudo certo com a gravação do clipe”.
Após a resposta positiva do público, a artista baiana atendeu os pedidos dos fãs e disponibilizou, nesta quarta-feira (23), um vídeo com a coreografia realizada por ela e as dançarinas no clipe. “No videoclipe acabou ficando um pedaço pequeno por causa dos cortes dos takes, então como estavam me cobrando a coreografia completa, eu decidi gravar esse vídeo. A dança foi criada por mim, Érica Paz e Angel”, diz Natha.
Como planos futuros, a drag queen informou que ela e Roberta estão pensando em lançar um EP juntas e já estão em processo de produção. “Nesse momento estamos correndo atrás do dinheiro e de parcerias. Estamos com um material muito babado. Queremos muito conseguir lançar isso para tentar se apresentar durante o Carnaval e vender vários shows”.
Sobre a arte drag em Salvador, Natha Sympson fez questão de destacar que não encontra apoio de estabelecimentos que realizam apresentações de drags e de empresários para conseguir mostrar o seu trabalho. “É muito difícil ser artista aqui em Salvador, a arte é muito desvalorizada. Foi muito difícil para a gente conseguir toda a produção desse clipe e que com tão pouco conseguimos fazer tudo isso. Preciso deixar um recado: as pessoas valorizam mais os artistas de fora, e não olham para as pessoas maravilhosas e artistas incríveis que temos aqui dentro da Bahia. Queria pedir que empresários e boates valorizassem mais a nossa arte, pagassem um cachê digno para a gente, contratassem a gente para shows ao invés de contratar artistas de fora”, sugere.
Fonte: bahianoticias.com.br